26 de novembro de 2011

Viva Sócrates



Além de filósofo e jogador de futebol Sócrates também se apresenta como um exímio jogador de basquete. Tá explicado o porque ele é tão foda assim!

O Pensador Moderno


Refletir é necessário, mesmo diante do caos!

É proibido proibir

Proibido proibir, de Caetano Veloso
A mãe da virgem diz que não
E o anúncio da televisão
E estava escrito no portão
E o maestro ergueu o dedo
E além da porta há o porteiro
eu digo não
eu digo não ao não
eu digo é proibido proibir
dê um beijo meu amor
Eles estão nos esperando
Os automóveis ardem em chamas
Derrubar as prateleiras
As estantes
As estátuas
As vidraças
Louças, livros, sim
E eu digo sim
E eu digo não ao não
E eu digo é proibido proibir

24 de novembro de 2011

Um pouco de poesia

A máquina do Tempo
por: Carlos Drummond de Andrade

E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco

se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas

lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,

a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.

Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável

pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar

toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.

Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera

e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,

convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas,

assim me disse, embora voz alguma
ou sopro ou eco ou simples percussão
atestasse que alguém, sobre a montanha,

a outro alguém, noturno e miserável,
em colóquio se estava dirigindo:

"O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo,

olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,

essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo

se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste... vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo.”



As mais soberbas pontes e edifícios,
o que nas oficinas se elabora,
o que pensado foi e logo atinge

distância superior ao pensamento,
os recursos da terra dominados,
e as paixões e os impulsos e os tormentos

e tudo que define o ser terrestre
ou se prolonga até nos animais
e chega às plantas para se embeber

no sono rancoroso dos minérios,
dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
na estranha ordem geométrica de tudo,

e o absurdo original e seus enigmas,
suas verdades altas mais que todos
monumentos erguidos à verdade:

e a memória dos deuses, e o solene
sentimento de morte, que floresce
no caule da existência mais gloriosa,

tudo se apresentou nesse relance
e me chamou para seu reino augusto,
afinal submetido à vista humana.

Mas, como eu relutasse em responder
a tal apelo assim maravilhoso,
pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,

a esperança mais mínima — esse anelo
de ver desvanecida a treva espessa
que entre os raios do sol inda se filtra;

como defuntas crenças convocadas
presto e fremente não se produzissem
a de novo tingir a neutra face

que vou pelos caminhos demonstrando,
e como se outro ser, não mais aquele
habitante de mim há tantos anos,

passasse a comandar minha vontade
que, já de si volúvel, se cerrava
semelhante a essas flores reticentes

em si mesmas abertas e fechadas;
como se um dom tardio já não fora
apetecível, antes despiciendo,

baixei os olhos, incurioso, lasso,
desdenhando colher a coisa oferta
que se abria gratuita a meu engenho.

A treva mais estrita já pousara
sobre a estrada de Minas, pedregosa,
e a máquina do mundo, repelida,

se foi miudamente recompondo,
enquanto eu, avaliando o que perdera,
seguia vagaroso, de mãos pensas.

Um ensaio sobre as relações sociais na Universidade

A busca por sucesso profissional e por uma realização pessoal é assunto que encharca o plano histórico contemporâneo, qual está contextualizado no cenário capitalista que promove o individualismo, a especialização e a excelência. E a Universidade possui um papel muito importante para que esses fatores se concretizem, uma vez sendo fonte de ensino e capacitação nesse mesmo plano. Mas essa busca por objetivos pessoais perpassa a idéia da realização individual e se tornar objeto de um plano muito mais abrangente, o plano social.

Durkheim caracteriza como um fato social condutas que são exteriores ao indivíduo e que exercem uma força sobre o mesmo, ou seja, maneiras de pensar e agir que são exteriores e estão no plano social. Nessa idéia o fato de querer entrar em uma Universidade para se tornar um profissional em uma área não seria de preocupação social, uma vez que vem como desejo de concretizar uma realização pessoal, mas quando olhamos para a Universidade, sendo ela pública, nos deparamos com uma problemática de interesse social, assumindo que a educação é um direito de todos. Estamos então diante de um fato social que se ratifica todos os anos com a entrada e saída de pessoas nas Universidades brasileiras.

Essa proposta social de que a educação é um direito de todos se constrói, nas Universidades brasileiras, sob uma idéia de mérito que se caracteriza e toma forma nos vestibulares, onde todos concorrem a um número limitado de vagas e os que tirarem as melhores notas entram. Diante disso podemos perceber quão grande objeto de estudo social esse fato se torna, uma vez que se remete ao darwinismo social de Spencer onde o mais forte sobrevive. Ora, a sociedade vem de um plano militar e se desenrola gigantescamente em um plano industrial, buscando nesse sentido um progresso fundamentado em uma ordem moral, ou seja, em leis e regras que exortam e moldam as sociedades, aproximando um indivíduo do outro, portanto a problemática social do ensino está latente, uma vez que o darwinismo social é de muito agrado e favorece a burguesia. Como compreender que a educação é um direito de todos e conceber a idéia de que isso realmente acontece, quando vemos uma pessoa que estudou em escola pública, que carece de ensino comprometido, disputar a mesma vaga com uma pessoa que estudou em escola particular e fez cursinho?

Tomando por base que os estudos sociais possuem como objeto os fatos sociais e apoiados pela biologia que prova que a raça humana é monotípica nos resta preocuparmos com o humano em geral, seja ele classificado, de forma desnecessária em tempos modernos, como branco, negro, mestiço. Portanto se encontramos uma grande maioria fora das Universidades que possuem baixa renda, fator social e não biológico, é necessário uma ação social para a inserção desses mesmos nas Universidades, tendo assim o real direito à educação, seja por meio de cotas, instrução para um comprometimento desses ou uma revolução no ensino público.

Durkheim também fala da divisão do trabalho, onde, em função dessa busca pelo progresso e da instrumentalização da razão como fator articulador, a força industrializadora atingiu a ciência, ramificando-a em diferentes áreas, com seus estudos, métodos, preocupações e objetivos. Essa divisão do trabalho potencializa a idéia de progresso e se desloca mais ainda do horizonte dogmático e conformista da idade média, mas só pode subsistir através de uma solidariedade mútua que se dá na ordem moral, no respeito do direito. E nesse desenrolar complexo da modernidade industrial um fator afeta suas engrenagens, um fator patológico denominado anomia, a perda de atuação consciente de um indivíduo na sociedade, qual segue à mercê, à deriva nas relações que assolam o plano social.

Portanto o entendimento social de uma Universidade em seu papel educacional, em seu papel de formadora de formadores de opiniões sociais, é de extrema importância e, por mais comum que seja a presença desses fatos sociais, ainda permanecem intrínsecos sob o véu das ações rotineiras.